Artigo de Opinião por WELLINGTON OSWALDO
O assunto mais debatido durante os últimos dias ou anos, talvez, é sobre a inteligência artificial, uma tecnologia capaz de fazer modificações faciais, conversar com internautas de forma quase humana… e entre outras funções. Essa inteligência tem sido usada por diversos meios, garantindo uma boa imagem do recurso, mas o que pouco se fala é sobre as consequências que esse uso exacerbado pode trazer. Na verdade, em toda nossa vida, as consequências quase nunca são levadas em conta, não é mesmo? Como as redes sociais, por exemplo. Pensando nisso, uma das causas dentre tantas outras é a perda de autonomia da criticidade humana, além do discurso distorcido em que vários meios, que utilizam dessa ferramenta, afirmam ser “benéficas” para o internauta.
Fonte: https://revistavisaohospitalar.com.br/como-a-inteligencia-artificial-pode-ser-usada-a-favor-da-medicina/ |
Nesse contexto, muito se afirma que a inteligência artificial otimiza o tempo, mas será que otimizar o tempo seria uma boa solução? Isso vai de encontro ao senso comum em que vivemos no imediatismo, ou como dizia o sociólogo Bauman, “vivemos tempos líquidos, nada é feito para durar”, isto é, tudo o que vivemos é passageiro demais, nada fica, nada importa, podemos trocar por outro naturalmente, e isso não é natural. Mudança é natural, mas perder o prazer de valorizar os momentos ou coisas importantes é um caso em que se deve pensar bem. É nessa lógica que a autonomia da criticidade humana surge.
Quando se fala sobre criticidade, pensemos sobre o valor que nós colocamos sobre algo, sobre saber refletir acerca das coisas que nos são oferecidas diariamente: quais são as consequências além dos benefícios? Isso é ser crítico: saber refletir sobre o que é posto a mim. O dicionário Aulete virtual vai nos mostrar que criticidade quer dizer a qualidade de crítico; conhecimento e capacidade crítica, ou seja, é ter a capacidade de pensar, analisar sobre algo ou alguém. Um pensador que fala muito bem sobre esse assunto e autonomia é o educador Paulo Freire. Em seu livro Pedagogia da autonomia, ele afirma que
A curiosidade como inquietação indagadora, como inclinação ao desvelamento de algo, como pergunta verbalizada ou não, como procura de esclarecimento, como sinal de atenção que sugere alerta, faz parte integrante do fenômeno vital. (FREIRE, p. 33, 2022)
Então, a curiosidade é o principal caminho para o ser humano ser crítico e autônomo sobre qualquer área de sua vida. Um estudante de letras não podia estar no curso sem antes ter a curiosidade de saber o currículo, sem ter a curiosidade de entender a língua portuguesa… essa ação o torna autônomo. O estudante buscar o conteúdo depois de receber uma mediação do professor é ser autônomo, crítico. No entanto, quando essa ação torna uma simples conversa ou pedir para uma inteligência fazer por ele o que ele próprio devia fazer, essa capacidade indagadora é quase que inexistente, pois não há métodos para entender o que se está “aprendendo” nem motivação para.
Nesse sentido, é evidente a distorção das consequências da inteligência artificial que os meios que a compõem fazem: “otimizar o tempo”. Se otimizar o tempo de maneira pobre, temos uma séria consequência, a que já foi falada aqui. Se não temos um olhar crítico sobre esse recurso, em entender de fato os benefícios, não usá-la de forma que perca a capacidade indagadora, a curiosidade, poderemos facilmente ser marionetes da tecnologia, como nos mostra Steve Cutts em “Escravos da Tecnologia”. Consequentemente, teremos ou já temos mentes fragilizadas e vazias, posicionamentos sem argumentos, sem valores… pessoas sem motivação.
Assim, cito novamente Bauman, o qual afirma que “nenhuma sociedade que esquece a arte de questionar pode esperar respostas para os problemas que a afligem”, ou seja, se perdemos essa capacidade, estamos fadados à influência daqueles que sabem.
Portanto, uma das soluções para isso é a educação tecnológica nas escolas e na própria internet para aqueles que já saíram da escola. Pode parecer um paradoxo, mas não, a inteligência artificial pode ser um grande aliado quando usado de maneira assertiva, ora ela já está conosco a um bom tempo (o google), por isso, a educação sobre seus benefícios, consequências, funcionalidades, importâncias, objetivos… é importante, para que o ser humano não perca a capacidade indagadora, a curiosidade… a habilidade que tem para pensar, refletir e discutir sobre qualquer assunto.
Referências Bibliográficas
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. 74. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2022
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